domingo, 15 de julho de 2012

Top 10 Filmes/Séries Nunca Dobrados em PT - DESACTUALIZADO


EDIT 27/Fev/2015: Esta lista está desactualizada. Desde que a escrevi, fui informada de que o Sonic the Hedgehog já tinha uma dobragem (ainda não pude confirmar por mim mesma, mas fica a nota), e o Wakfu foi de facto dobrado e transmitido na SicK. 




Vá-se lá saber porquê, desde há já muitos anos, há certas séries, ou filmes, que ao que parece nunca passaram da fronteira, quer esta se trate do oceano Atlântico ou de terras de Espanha.  O que é uma pena, porque, se fossem devidamente trabalhados,  resultariam extremamente bem em Português de Portugal, e de certeza que iriam ser lembradas com afeição por muitos. 

Ok, sim, não há garantias de que se seriam  tratados com o respeito que merecem por estas bandas, mas ainda assim, há que perguntar o que deu aos manda-chuvas dos licenciamentos para nem sequer lhes tocarem.  Será que acharam que não iam render?  Nem sabiam que existiam?  Ou simplesmente disseram “Eh, quem é que se vai importar se trazemos isto ou não?”

De facto há mais séries (e filmes) por aí que nunca tiveram dobragem portuguesa, mas estas são as minhas escolhas pessoais.  São séries e filmes que acho realmente oportunidades perdidas tanto em termos de performances como em termos culturais.  A organização está feita segundo uma escala aproximada de notoriedade do filme ou série/probabilidades de ser dobrado.

Adiante, que comece o Top 10!







Número 10:  Fullmetal Alchemist: Brotherhood [2009] e Harvey Birdman, Attorney At Law [2004]



Ok, ok, estou a fazer batota (e logo no primeiro).  Mas a verdade é que quando tive de escolher qual das duas havia de excluir, cheguei à conclusão de que embora sejam exemplos muito diferentes, estavam na lista por razões similares :  As duas são séries mais "adultas", as duas dariam hipóteses a performances bastante interessantes, e as hipóteses de as duas alguma vez serem dobradas são mínimas, cada uma pelas suas razões. 

…Acho que não é novidade para ninguém que as séries ditas “mais adultas”, regra geral, não são dobradas por cá.  Não quer dizer que não tenhamos gente com capacidades e/ou talento para fazer uma série dessas, fosse ela mais séria, ou risqué, antes pelo contrário.  Mas o facto é que as séries da Fox, tipo Simpsons, Family Guy e afins, e anime, ou animação japonesa, que não seja para miúdos.  …Sim, porque não podemos ter dobragens para coisas adultas, porque só os putos é que vêm séries animadas, não é?  E não podemos deixar que vejam coisas destas, não é?  Porque a responsabilidade não é dos pais, Deus me livre, mas sim dos canais que transmitem as séries, NÃO É?  Ah, não, espera, o Fullmetal Alchemist dá na Sic K... Que é um canal para... miúdos.

...

...Qual é o vosso problema??

Adiante.

Ora, para quem não sabe, Fullmetal Alchemist é, muito (MUITO) resumidamente, sobre um par de irmãos à procura de uma Pedra Filosofal, a qual supostamente tem a capacidade de os tornar normais.  É uma longa história, mas vale a pena dar-lhe uma olhada.
Já agora, fãs...  Não me venham dizer que não temos absolutamente ninguém que conseguisse fazer um bom Edward, ou Al, ou Roy, ou até, sei lá, um bom Armstrong ou Envy, porque isso é estatisticamente impossível.  ...Sim, estatisticamente.  Quais são as probabilidades de não termos ninguém que conseguisse fazer um bom trabalho a dar voz a cada um destes personagens?  ...Menores do que as da França, já que não temos nem metade da população que eles têm – MESMO ASSIM.
Posso admitir que uma dobragem do primeiro anime de FMA também não seria nada má, mas na minha opinião esse tomou algumas decisões... questionáveis.  Ahem.

 ...Por mim, a história do Brotherhood é mais sólida, e até o número de episódios é melhor, de um ponto de vista financeiro para o estúdio e para os actores (60, mais coisa menos coisa).  Para não falar de que a quantidade de personagens e de emoções diferentes faria de qualquer uma destas séries um excelente projecto para mostrar a nossa habilidade e versatilidade, nesta área.  Se o texto fosse bem traduzido e adaptado e os actores bem dirigidos, acabávamos com um produto decididamente espectacular.

Mas é claro que isso nunca aconteceria, dado que toda a gente já deve estar farta de ver isto a repetir. Enfim.


Quanto ao Harvey Birdman Attorney at Law, imaginem isto:  uma série sobre um super-herói meio acabado que trabalha numa agência de advocacia, e os clientes são personagens clássicos da Hanna-Barbera, do género Zé Colmeia, Flintstones, Scooby-Doo, Pepe Legal, etc, etc, etc.  ...A série é para maiores de 12, já agora.

A sério, de todas as séries “adultas” que já vi, esta é a que me dá mais pena pensar que nunca nenhum dos nossos canais iria comprar,  quanto mais dar-se ao trabalho de a dobrar.  A premissa é brilhante, as personagens são hilariantes, e o humor...  Bem, às vezes é um pouco perverso, mas está por todo o lado.  Devo dizer que admiro imenso o talento para a comédia destes tipos:  a velocidade a que as coisas acontecem é incrível.  Para não falar da oportunidade de ver os personagens clássicos da Hanna-Barbera como os nunca vimos antes.  Yep, podem crer.  ...Ok, às vezes gostava que os episódios se focassem mais nos clientes, mas enfim.
Juntem a isso o facto de que a Matinha, por acaso, anda a dobrar algumas das séries que lá aparecem, o que quer dizer que podíamos ter consistência e acesso a actores de primeira... Bem, há dúvidas?




Número 9:  Cats Don’t Dance [1997]


Ok, este filme chegou de facto a sair cá em VHS, mas, adivinhem – está em português do Brasil.  A dobragem brasileira não está nada má, antes pelo contrário: posso dizer que há canções que me dão muito mais gozo ouvir em brasileiro do que no original inglês. 

A história fala de um gato chamado Danny, que vai para Hollywood na esperança de ter uma carreira no cinema, mas que descobre que os animais não são exactamente bem-vindos.

Tudo bem, mas o facto é que nesta altura já se dobrava a grande maioria dos filmes que passavam no cinema por cá, o que me faz perguntar se estamos perante um caso de uma “Dobragem Perdida” ou se nunca sequer chegou às salas.  É uma pena, porque embora o filme não seja absolutamente estelar, é bastante divertido, original, e a animação está muito bem feita.  É uma daquelas gemas que foram esquecidas pelo tempo, infelizmente – mais uma casualidade do marketing deficiente da Warner Bros., aposto.

Outra coisa que me faz pensar é que, dado que o filme foi lançado pela Warner Bros., muito provavelmente a dobragem estaria a cargo dos estúdios da Matinha, que na altura suponho que ainda se podia dar ao luxo de usar quase só actores ditos “da casa”.  Isto não só quer dizer que quase de certeza que teríamos uma dobragem de qualidade garantida, como também seria provável que o Danny teria a voz do André Maia, o que marcaria uma das poucas vezes em que ele daria voz ao protagonista. 
...Ok, não havia garantias absolutamente nenhumas disso, mas uma pessoa pode sonhar, não?





Número 8:  Duck Dodgers [2003]


Qualquer fã dos Looney Tunes que se preze conhece o “Duck Dodgers do Século 24 e Meio”, certo ou errado?
...Ok, talvez nem todos conheçam, mas é de facto uma das curtas mais famosas do realizador Chuck Jones, e até dos Looney Tunes em geral.  E com um conceito tão simples, mas ao mesmo tempo com tanto potencial, era só uma questão de tempo até aparecer uma sequela ou mais – ou até uma série. Como seria de esperar, a série segue a premissa básica da curta, nomeadamente a luta inter-planetária entre a Terra e Marte, com mais uns elementos à mistura, como o personagem do Duck Dodgers ter sido congelado no “nosso” presente e acordado no futuro ao estilo Futurama, ou a adição de personagens novos, como a Rainha Marciana.

E sim, os personagens dos Looney Tunes estão a representar papéis, mas as personalidades deles mantém-se intactas, o que torna as coisas bastante interessantes.  É basicamente  Star Trek com Looney Tunes – uma combinação estranha, é certo, mas que funciona extremamente bem.  Ok, devo dizer que, mesmo com estes elogios todos, a última temporada podia ser muito melhor, mas as duas primeiras chegam para compensar.  Principalmente o fim da segunda.  UAU.  Porque é que decidiram continuar, porquê...
E, é escusado dizer, a série nunca chegou às nossas praias, e tenho de me perguntar porquê (outra vez).  Ok, ok, lá íamos nós para a Matinha outra vez...  Se alguém decidisse jogar com o baralho todo, quero dizer.

Sim, estou a olhar para ti, The Looney Tunes Show.
No entanto, tenho de ser perfeitamente honesta.  Na minha opinião, a versão dos Looney Tunes da Matinha não é uma que... brilhe especialmente, por razões que eventualmente irei elaborar.  Mas ainda assim, pergunto-me mesmo como é que iriam lidar com uma série destas – não é todos os dias que vemos os Looney Tunes a agir de maneira mais séria ou até dramática (embora nunca esquecendo a comédia), e como esta série marca várias das poucas instâncias em que temos a oportunidade de o fazer... Bem, é mesmo uma pena.




Número 7:  Wakfu [2008]



Na última década notou-se uma tendência dos canais portugueses (principalmente a RTP 2) para se virarem para a Europa como fonte de séries animadas para adaptar, o que faz sentido – aposto que importar uma série de dentro da Zona Euro é muito mais barato do que trazer uma dos Estados Unidos. Estas séries variam bastante em termos de  tom e conteúdo, mas, com poucas excepções, não costumam deixar grandes impressões, seja pelos próprios conceitos, ou pelos timings, ou pelo estilo de desenho, ou até pela própria animação (olá, panorâmicas europeias!).


Ora bem, apresento-vos Wakfu, uma série completamente animada em Flash, baseada no jogo online com o mesmo nome, criada e produzida inteiramente em França.  Sim, França.  Não deixem que os designs vos enganem.
Adiante, estamos a falar de uma grande série que tem pouco ou nenhum reconhecimento, infelizmente, se bem que tenha estofo para se tornar num sucesso.  As personagens são interessantes (principalmente o vilão.  G’anda oportunidade para uma performance de alto nível), as cores saltam à vista, e o esforço e a criatividade dispendidos neste projecto vêm-se por todo o lado.  Ok, admito que algumas partes da história são um nadinha cliché, ao princípio, mas por isso não deixa de ser espectacular – para não falar de que a série toma reviravoltas surpreendentes lá para o fim da primeira temporada.

Nas alturas em que me pus a pensar em como ficaria uma dobragem disto, normalmente aparecia-me a antiga equipa da Somnorte como a hipótese mais forte, não sei porquê.  Em Lisboa há pessoal que faria um figurão e pêras aqui, mas a Somnorte tinha um certo ar de coesão que falta à grande maioria dos estúdios de Lisboa.  ...A não ser que decidissem dar uma de Mushiking e se desleixassem na direcção.  Ergh. 


...Na verdade, a Somnorte parece estar fora de comissão há já algum tempo, e não consigo perceber o que se passou.  Onde está a Somnorte da Liga da Justiça e do Batman?  Onde está a Somnorte das Tartarugas Ninja (2003), do Rupert, das Histórias dos Pequenos Póneis, do Adventures of Sonic the Hedgehog da SIC, do Astro Boy?  O que foi que lhes aconteceu, pergunto-me eu?  O que é que – Não, esperem, já sei o que lhes aconteceu.

Errrgh.
Em resumo, é uma excelente série, e o facto de que é feita cá no nosso velho continente é muito reconfortante.  O que me faz perguntar, mesmo sabendo que não é assim tão conhecida...  Com tanta série europeia reles que os canais teimam em trazer para cá, como é que ESTA lhes passou ao lado?!




Número 6:  Darkwing Duck [1991]



Devo confessar que tenho as minhas dúvidas quanto a se esta já foi dobrada ou não – mas dado que nem vejo sinais de uma dobragem do Tico e Teco: Comando Salvador ou do Tale Spin (Esquadrilha Parafuso), por exemplo, suponho que esta não seja excepção.

Darkwing Duck é uma série de 1991 que junta o estilo e de certa forma até a continuidade do Duck Tales (já tínhamos Capitão Bóing e Gizmoduck!) com uma data de homenagens a super-heróis das revistas pulp e da Era Dourada da BD, como o Shadow e o Batman, por exemplo (o último dos quais iria aparecer numa das séries de animação mais bem aclamadas dos últimos anos apenas um ano mais tarde, o que é interessante) Portanto, temos o herói “solitário”, os parceiros dele, e uma galeria de vilões que passam o tempo a tentar conquistar a cidade ou a fazer-lhe a vida negra.
A ideia é capaz de parecer estranha ao princípio,  mas não há dúvida de que resulta.  As personagens são únicas e memoráveis, e as histórias são divertidas – e algumas até surpreendem pela audácia dos temas que decidem tratar.  E, de certeza que, falando de uma série Disney, esta também iria para a Matinha, e não tenho dúvidas de que, se fosse trabalhada como, digamos, a Kim Possible, como quem diz: com atenção aos personagens diferentes, tínhamos aqui uma bela peça.  E, sim, eu disse “atenção a personagens diferentes”.  Os vilões são recorrentes, portanto teria de haver cuidado com isso.
Acho que o facto de que nunca ter sido dobrada tem mais a ver com a época em que saiu do que com outra coisa qualquer – afinal, o Duck Tales estava em inglês com legendas quando deu no Club Disney, embora tenha acabado por ser dobrado quando passou para o Disney Channel.  É uma pena que ninguém se tenha lembrado de fazer o mesmo com esta.





Número 5:  The Secret Of NIMH [1982]


Vou ser absolutamente franca:  não acho que este filme seja a absoluta obra-prima pela qual muita a gente o toma.   Para já, não sou grande fã do Don Bluth, e além disso, vejo aqui falhas enormes que, se fossem feitas por outros filmes, seriam razão suficiente para escárnio geral.


No entanto, posso dizer que gosto bastante do filme.  Os visuais são absolutamente terríficos e criativos, a animação é incrível, a história é simples mas original (embora tenha sido adaptada de um livro), e a maioria dos personagens (ênfase na “maioria”) são, de facto, interessantes de se ver.  Especialmente digna de nota é a Sra. Brisby:  quantos filmes de animação têm uma mãe preocupada com o filho doente como a protagonista?

Diga-se de passagem, contudo, que este é um de dois casos especiais entre os nomeados desta lista.  Para já, é um filme de 1982, altura em que eu nem sei se já se faziam dobragens para televisão, quanto mais de filmes.  No entanto, sei de fonte segura que os nostros hermanos, por exemplo, têm o DVD disponível nas lojas – o que quer dizer que já houve uma onda de lançamentos de qual não fizemos parte, vá-se lá saber porquê, e portanto uma oportunidade perdida para uma dobragem.  Outra vez.  Eu... vou falar mais disso lá para a frente.  É um tema que não me agrada.
Mas adiante, é uma pena este filme não ter chegado cá.  É sombrio, é épico, e era uma excelente adição ao portfolio de qualquer dos nossos melhores estúdios.




Número 4:  Lucario and the Mystery of Mew [2005]


Não tenho problemas a admitir que, embora já não veja a série, continuo a ver os filmes do Pokémon.  Há debates sobre quais serão de facto os melhores, mas de todos (15, até agora), ninguém contesta que o oitavo, ou seja, este, se conta entre eles, se não for mesmo o melhor. 


Ao contrário da maior parte dos filmes, que quase podiam ser simplesmente um episódio alargado da série, ou parecem incompletos por uma razão ou outra, este consegue contar uma história sólida, com um princípio, meio e fim, e chega ainda a assumir riscos.  Claro que sofre com a inclusão dos eternos emplastros (leia-se: a companhia do Ash), mas isso não chega para contrabalançar o que o filme faz bem.

 Até a dobragem da 4kids – incidentalmente a última de um filme do Pokémon que esteve a cargo deles – é das mais  fiéis das que eles alguma vez fizeram.  (Para quem não sabe, a 4kids Entertainment é uma empresa de dobragem americana infame pelas dobragens apalermadas e extra-americanizadas de qualquer propriedade em que toca.)  Ok, tem alguns problemas, nomeadamente uma sobre-abundância de reacções desnecessárias, a entoação nalgumas falas, mudanças ligeiras no texto...  Mas se uma versão portuguesa tivesse interesse e quisesse rectificar alguns deles, até se resolviam sem interferir com a americana.  Principalmente com um pouco de conhecimento da versão original – que também não é difícil de arranjar, diga-se.  *tosse, pista, pista*



Agora, vá-se lá saber porquê, a história destes filmes em Portugal tem sido incerta.  Os primeiros dois foram dobrados na Matinha e estão excelentes, o 3º e o 4º por uma equipa diferente, menos boa mas aceitável, do 5º ao 9º nem vê-los – excepto o 7º (AAAARRGGHHH), e do 10º em diante finalmente estão a ser dobrados regularmente... pela equipa que dobrou o Aladdin.   ...Ahem.
 Mas descartando isso, temos aqui um filme que teria sido material brutal para qualquer uma das duas primeiras equipas.  Ninguém me tira da ideia que o Carlos Macedo seria perfeito para o Lucario (sem rosnar tanto como o nosso amigo americano, de preferência), e só isso chegava para o filme valer a pena.  É, de facto, um dos melhores filmes da franchise inteira, e o que é pena é que nunca tenhamos a oportunidade de ver uma dobragem que lhe faça justiça.  Sim, porque aposto que se fosse dobrado agora, ia para...

ErrrrrRRRGHHH.




Número 3:  Sonic the Hedgehog (SatAM) [1993]



Uma das séries mais populares com o nome do ouriço azul, também conhecida como “SatAM” por dar aos sábados de manhã.  Perguntei-me se teria sido dobrada durante vários anos, já que não havia provas nem a favor nem contra, até que alguém que percebe do assunto finalmente me respondeu:  não, esta série nunca deu cá em Portugal.  Hm, ok, achei eu.  Mas então apareceu outra pergunta... Porquê?

Como eu disse, esta é das séries mais populares com o nome do Sonic.  Pode não ser muito fiel aos jogos, mas  acaba por ser das melhores, se não a melhor, seja só pela preocupação que houve em criar uma história coerente, contínua, e conseguir imbuí-la com uma mensagem ambiental subtil que resulta, ainda por cima.  E tudo a partir de um conceito até aqui que se resumia a “correr pelos níveis, dar cabo do Robotnik, salvar animaizinhos”.

Sou sincera, contudo, quando digo que nunca me foi muito apelativa, principalmente no que toca à personagem da Princesa Sally – geralmente franzo o sobrolho assim que me é óbvio que uma personagem foi criada de propósito para ser o interesse amoroso do herói.  *TosseMarySueTosse* 

Ainda assim, a série continua a ser bastante boa, e sobrevive ao teste do tempo – talvez uma das maiores provas disso é a BD publicada pela Archie Comics, baseada no mesmo conceito, que já dura há 19 anos.  E, já que mais não seja, julgando quando teria aparecido por cá (1994, mais coisa menos coisa), de certeza que teria tido uma dobragem interessante.

Este é um daqueles casos em que ficamos a perguntar que raio passou pela cabeça do pessoal dos canais.  Não há, que eu tenha percebido, alguma aversão ao Sonic – tirando o “Filme”, e esse é compreensível (Sozinho para sempre), todas as outras propriedades animadas da franchise apareceram por cá.  O Adventures of Sonic the Hedgehog deu tanto na RTP 2 (legendado) e na SIC (dobrado), e acabou por aparecer mais tarde também em cassetes e DVDs (Jorge Paupério como Robotnik = WIN), o Sonic Underground deu na TVI (Hehe, “Belicoso”), e o Sonic X na SIC (o Shadow NÃO é o Knuckles disfarçado e o Quimbé NÃO é um substituto aceitável para o Bruno Ferreira, RAIOS).  Mas esta continua desaparecida da cena portuguesa até hoje. 

Que eu saiba, no princípio dos anos 90, a mania do Sonic bateu forte por toda a Europa, e sei de fonte segura que Portugal não foi excepção.  E se até se deram ao trabalho de trazer o Adventures, porque não este também?




Número 2:  The Nightmare Before Christmas [1993]



...
Ok, alguém é capaz de me explicar o que aconteceu aqui?

Um marco indiscutível na História da animação.  Um dos clássicos de culto mais populares de sempre.  Uma história original e criativa do então-novato Tim Burton.  Personagens únicos e vibrantes.  Músicas inesquecíveis compostas pelo Danny Elfman.  Técnicas de animação soberbas.  Atenção desmedida ao detalhe, tanto nos cenários como nos personagens.  Efeitos espectaculares para a época.  Porquê, porquê, PORQUE É que nunca tivemos uma dobragem nossa disto?
...Há mais alguma coisa a dizer?  Eu sei que traduzir canções é difícil, mas vá lá!  O quê, os miúdos assustam-se se os bonecos falarem português?  “OMG O JACK SKELLINGTON DISSE-ME OLÁ AAAAAAAARGH”  ...Ok, alguns dos bonecos são um bocado para o assustador.  Mas então por que raio é que o filme está classificado como para maiores de 6???
 Ok, tenho de admitir uma coisa.  Para fazer uma dobragem deste filme, era preciso fazê-la BEM, e não seria trabalho fácil, já que até o original pende para o exagero.  Neste a margem de erro é mínima – qualquer casting mal feito, qualquer fala mal traduzida ou dita pode ter sérias consequências.  E claro está, como é um musical, ainda mais cuidado seria necessário para ter a certeza de que tudo ficasse adequado ao filme.  Por que se não, ficávamos com...


EERRRRRRRRRRRGH.

Mas sinceramente, que falha, caramba.  E digo-vos:  este filme só não é o nº 1 da lista por uma razão.  Só uma.  Continuem a ler...




Número 1:  The Great Mouse Detective [1986]


Um pouco de história: 

Estamos em 1985.  A Disney acabou de ter a pior queda na história da companhia desde a morte do próprio, na forma do filme “The Black Cauldron”, ou, em português, “Taran e o Caldeirão Mágico”. 

A companhia pondera se vale a pena continuar a criar peças novas de animação – afinal, os relançamentos dos clássicos estão a render, mas os filmes novos são fracasso atrás de fracasso.  (Pista: perder terreno para o filme dos Ursinhos Carinhosos não é bom sinal.)


Eis que entram John Musker e Ron Clements, dois novatos promissores na companhia, que têm esta ideia de fazer um filmezito baseado na série de livros “Basil of Baker Street”, de Eve Titus, sobre um rato que emula as aventuras de Sherlock Holmes.  Os manda-chuvas não sabem o que fazer disto, mas lá disponibilizam o dinheiro para o filme – ao fim de contas, já não têm nada a perder.  E, aproximadamente um ano depois, em Julho de 1986, o filme saiu nos cinemas.  Agora, ou ia, ou rachava de vez.


...E não é que foi?

O sucesso deste filme deu finalmente à Disney a confiança que tinha perdido há já vinte anos, para continuar a tradição de fazer filmes de animação de qualidade, e impulsionou a era a que se veio a chamar a Renascença da Disney e, mais tarde, até da indústria da animação em geral – a era em que se fizeram clássicos como “A Pequena Sereia”,  “A Bela e o Monstro”, “Aladdin” e “O Rei Leão”.  E o dinheiro que fizeram quis dizer que puderam financiar projectos mais ambiciosos, como “Quem Tramou Roger Rabbit”, “Nightmare Before Christmas” e até “Toy Story”, o qual deu início à linha de sucessos da Pixar.  E tudo graças ao nosso amigo Basílio, e a quem não desistiu dele.

O filme foi relançado nos cinemas e em VHS em 1992, e outra vez em DVD, em 2000.  Nessa altura, as dobragens por cá, com umas poucas excepções, estavam reservadas a material novo, o que quer dizer que quando se comprava uma cassete com um filme mais antigo, o mais provável era que estivesse em brasileiro.  Mas a partir de 2004/5, começaram a haver dobragens para os filmes que eram relançados.  ...Embora a qualidade de algumas seja... questionável. Tipo...

Haha! Estavam à espera do Aladdin, não estavam?

De qualquer forma, ao menos era certo que, se tivéssemos tido o azar de não arranjar um filme antes de ele voltar para o temido Cofre Disney, iríamos ter a oportunidade de o conseguir outra vez, e com o bónus de agora ter a escolha de o ouvir no nosso português.

Ora em Abril de 2010, a Disney relançou nos Estados Unidos o filme pela terceira vez em Home Video e pela segunda em DVD.  Passaram meses e meses, e, por estas bandas, nada de DVD, nada de notícias, nada de nada.  Bem, estes atrasos são normais – fazer a dobragem do início, traduzir, adaptar, casting, gravar, editar, isso tudo demora tempo.  Até que passaram sete, oito, nove meses, um ano.  E um dia, por acaso, uma pessoa dá uma volta numa loja espanhola e depara-se com isto.


O DVD espanhol tinha saído em Novembro de 2010.

Pois bem.  Lembram-se de eu ter dito que havia uma única razão pela qual o Nightmare Before Christmas estava em nº 2? 
Pois...  Ao menos esse saiu.  Sem dobragem portuguesa, é certo, mas não interessa: o DVD saiu.  Duas vezes no espaço de 5 anos, de facto.

Pois é, alguém armou bronca.  Sinto-me tentada a atirar a culpa para a Zon/Lusomundo ou para a Disney portuguesa, mas não sei se são eles que escolhem activamente aquilo que trazem (ou não) para o país, ou se respondem perante algum poder maior que os possa barrar se assim entender, e não quero acusar ninguém sem fundamento.  
E, verdade seja dita, também dei uma vista de olhos por algumas lojas britânicas e também não vi lá nada... O que me faz pensar que foi um simples caso de termos sido empilhados com quem teve pior sorte.
De qualquer forma, não muda o facto de que aqui houve bronca.  Alguém se esteve a borrifar, não reparou, e/ou disse “não” a um possível lançamento português deste filme.  Graças a esse alguém, Portugal não só ficou sem o DVD, portanto sem um filme que já não se vê nas lojas desde há pelo menos 10 anos, mas também sem uma dobragem própria do mesmo.  E, falando do DVD por si só, não. Há. Desculpa.  Não interessa que saísse emparelhado com uma data de línguas estranhas que quase ninguém fala por cá (o À Procura de Nemo vem com Turco e Árabe, pelo amor da Santa), ou até que fossem buscar a versão brasileira outra vez – ao menos o DVD saía.

E ainda por cima, juntar um bom elenco para este filme também não é nada difícil.  Querem ver-me a fazer isso aqui e agora?  Ok:  o Rato Basílio seria o Carlos Freixo ou o Carlos Macedo.  O Dawson, o António Montez ou o José Raposo.  A Olívia, a Bárbara Lourenço ou a Carla Garcia.  O Ratigan, o Carlos Paulo ou o Paulo Oom, ou o José Jorge Duarte (Director Battle, go!).  O Fidget, o Paulo Oom ou o Paulo B.  O pai da Olívia, o Rui Paulo.  E a Rainha, a Luísa Salgueiro, ou a Isabel Ribas, ou a Cláudia Cadima (as mesmas davam para a Sra. Johnson).  Pronto, feito.  Só faltavam incidentais e figurantes que, escusado será dizer, também não seriam difíceis.  Sim, não era uma equipa muito original para um trabalho da Matinha, mas com um elenco destes, havia muito pouco por onde errar.  

Até houve um tipo qualquer que publicou um elenco falso na página da Wikipédia, e que até estava plausível, e aproveito já para dizer agora que sim, eu confirmei, aquela dobragem não existe.  Mas adiante – se alguém se deu ao trabalho de fazer uma coisa dessas, pode significar uma de duas coisas:  1, esta pessoa tinha acesso à informação e decidiu partilhá-la – o que sabemos que não é verdade, ou 2, pelos vistos, não sou a única que gostaria de ver uma dobragem portuguesa de Portugal deste filme.
A nossa indústria da dobragem, diga-se de passagem, deve bastante à Renascença da Disney dos anos 90.  Assim como O Rei Leão bateu recordes de bilheteira no seu país natal, por cá marcou o início de uma nova era para a dobragem portuguesa, e estabeleceu um standard de qualidade que, embora tenha derrapado por vezes, se mantém presente desde há quase 20 anos.  

O nosso país teve a oportunidade de entrar de rompante neste meio e poder florescer num clima em que, já que os próprios filmes quebravam barreiras, tanto na técnica como nas histórias que contavam, tiveram de dar tudo por tudo para lhes fazer justiça. 
Até hoje, as nossas dobragens Disney e principalmente, Pixar continuam a ser das poucas que são constantemente aplaudidas e que conseguem levar até alguns cinéfilos puritanos a ver uma versão portuguesa no cinema.  Não é irónico então, que nos tenha sido vedado o pedaço de História que, ainda que indirectamente, tornou tudo isso possível?

De todos os filmes e séries que falei aqui, este é o caso mais irritante, mais agravante, absolutamente o mais frustrante de todos.  Um dos poucos filmes da Disney que pura e simplesmente não tem uma dobragem portuguesa, e sem nenhuma razão senão desleixo e falta de respeito, não só para com o filme e aquilo que ele representa, mas também para com o público em geral.  Já o disse e volto a dizer:  não há desculpa possível. 

Se alguém que possa ter mão nisto está a ler/ouvir, peço-lhe encarecidamente:  façam justiça ao Basílio, raios.  Ele não salvou o outro Rato por nada.


Ah, e o Taran e o Caldeirão Mágico está igual ou parecido.  Acho eu.